segunda-feira, 26 de julho de 2010

Manhã de Novembro



Ele acordou pouco depois dos primeiros raios-de-sol. Olhou para o lado e contemplou o rosto da menina com quem mais uma vez dividira a cama. Ela era linda, tão pequena, tão pura e inocente, tão frágil. Fechou os olhos por um instante e recordou-se do porquê que ela estava ali. Um pesadelo. Fora um pesadelo que a levara de sua cama para a dele no meio da noite, a levara para os seus braços, onde sempre estaria segura.


Franziu a testa por uns instantes. Os pesadelos estavam ficando mais frequentes e isso o preocupava. Desde que a mãe dela se fora ela andava distante, trancada no seu mundo particular. Tão particular que muitas vezes nem ele mais conseguia entrar. Lembrou-se que a mãe dela às vezes fazia o mesmo e isso o amedrontava. É ... ele tinha medo, muito medo. Medo de que a sua princesinha terminasse como a mãe e a avó.


Não. Isso não vai acontecer. Não vou permitir que isso se repita. Esse ciclo precisa acabar. Não vou perdê-la também, pensou. Ele fora avisado, mas estava apaixonado. Achou que poderia curá-la, salvá-la de si mesma. Achou que se ela estivesse ao seu lado as crises depressivas iriam diminuir até não existirem mais ou pelo menos até se tornarem raras. Não se importou com o fato dela já ter tentado se matar mais de uma vez. Então casou-se com ela.


Eu estava errado. As coisas não aconteceram como ele gostaria. Foram felizes no começo. Ela estava melhor e ele achou que tudo acabaria bem, que eles seriam felizes para sempre. Mas as crises voltaram. No ínicio eram apenas pesadelos, alguns momentos. Ela se fechavam em um mundo assustadoramente particular e alguns minutos depois voltava ao normal. Mas depois a situação foi crescendo até que esses momentos se tornaram em crises altamente depressivas ou em ataques de fúria insana.


E no meio disso tudo ela ficou grávida. A gravidez pareceu fazer-lhe bem. Ela ficou estável outra vez e ele novamente acreditou que as coisas poderiam ficar normais.


Ele havia se enganado mais uma vez. Depois que o bebê nasceu ela teve depressão pós-parto e tentou se matar. Não conseguiu. A situação foi piorando e depois de alguns anos ela acabou enlouquecendo de vez. Teve de ser internada num hospício assim como sua mãe.


E agora ele via a possibilidade da história se repetir. Via no olhar da sua filha a mesma solidão que habitava o olhar da sua esposa.


Olhou outra vez para a sua princesinha e decidiu que faria o que fosse preciso para salvá-la. A protegeria de si mesma se fosse preciso. Não deixaria que nada de mal lhe acontecesse.


Papai... já é de manhã? Já minha filha, mas pode dormir mais um pouco. Papai vai cuidar de você.

7 comentários:

iris g. pestana disse...

*.*
que liiiiindo, amiga!!!!
parabéns!!!

Maiara Marques disse...

Nessa, adorei o texto! Muito bom. De onde veio a inspiração?

Juliana disse...

CARACA! e eu não conhecia o seu blog!!!

Como assimmmm???

Lindo!

Vanessa Carneiro disse...

obrigada anjos.
mai, acho que foi no chuveiro, tive a ideia inicial no banho =p

Cíntia Mara disse...

Que lindo!!! Ai, deu uma vontade de estar lá pra ajudar "ele" a cuidar da filha. Muito fofo.

Anderson disse...

Mt bom, parabéns vc é d+.

Monalisa disse...

Que texto lindo!
Me emocionei aqui!
Beijos