Ele estava parado olhando através da janela enquanto uma lágrima solitária escorria pelo seu rosto quando ouviu um choro. Ele se virou e viu uma enfermeira parada na porta carregando em seus braços um pequeno embrulho que, ao que parecia, possuía pulmões bastante resistentes. Eles esticou bem os braços e, agradecendo à enfermeira, pegou o bebê.
“Bem vindo a esse mundo, pequenino.”
ele disse “Você é a coisa mais linda que
eu já vi na vida, sabia? Tenho certeza que se sua mãe pudesse, ela te diria o
mesmo.” Ao dizer isso seus olhos automaticamente foram em direção à cama onde
ela repousava inconsciente. Sua pele estava pálida, havia tubos em várias
partes do seu corpo e ela parecia extremamente fraca, ainda assim, ele não
conseguiu não achá-la linda.
Eles haviam conseguido. Contra todas as
possibilidades, eles haviam criado vida. Mas o preço havia sido alto; o quão
alto exatamente, ele ainda não sabia. Sentiu as lágrimas querendo cair e sabia
que se elas jorrassem ele não conseguiria mais parar e naquele instante, com o
filho nos braços, ele sabia que precisava se manter inteiro, pelo menos
enquanto o menino estivesse acordado. Sentiu as paredes do quarto se fecharem ao
seu redor e, de repente, ele começou a se sentir sufocado lá dentro; precisava
sair e respirar ar puro. Sabia que o bebê ainda era pequeno demais para pegar
sol, mas imaginou que se fosse só por alguns poucos instantes não faria mal.
Por precaução, pegou uma fralda e cobriu a criança, depois se esgueirou para
fora do quarto tentando passar despercebido pelas enfermeiras e médicos.
Lá fora, sob a calor do sol, ele se sentiu mais
calmo. Levantou a fralda e observou deslumbrado o menino que sorria para ele
como se estivesse feliz e animado por quebrar as regras e sair escondido do hospital. O
pai então desejou que fosse capaz de ser o homem que a criança precisaria que
ele fosse. Fechou os olhos e fez uma pequena prece para que o menino não fosse
como ele, mas que fosse melhor. Que fosse capaz de aproveitar todos os pequenos
momentos que lhe fossem oferecidos e viver intensamente, capaz de abrir bem os braços e cumprimentar o
mundo inteiro, capaz de ser forte e gentil e de enfrentar as adversidades da
vida de cabeça erguida, capaz de nunca deixar de se deslumbrar e se emocionar
com as maravilhas do mundo.
Quando
abriu os olhos viu um médico saindo do hospital com uma expressão preocupada no
rosto e o reconheceu. Imediatamente preparou seu coração para o pior, para a
notícia iminente que o profissional lhe traria, apertou ainda mais o filho nos
braços e, de maneira inconsciente, o trouxe para mais perto do peito. Juntou
tudo o que ainda lhe restava de força e caminhou na direção dO hospital, de
encontro ao médico.
“Estive te procurando por todo o
hospital,” disse o médico “sua esposa acordou.”
Surpreendido
pela notícia inesperada, o homem não conseguiu mais se conter e quando o
último cristal de medo se quebrou dentro de si ele pôde finalmente permitir que as
lágrimas caíssem pelo seu rosto, lágrimas de alívio e, principalmente, de pura
felicidade.
Ps. Leiam ouvindo essa música. Ela que me serviu de inspiração.