quinta-feira, 11 de junho de 2015

Vamos falar sobre sexo (na literatura)?



To enrolado pra escrever esse post desde sábado reretrasado após ter lido essa reportagem no dia anterior.

Pra quem ficou com preguiça de ler o texto do link, ele discute sobre a questão do sexo sendo abordado com cada vez mais frequência pela literatura adolescente e YA e se isso seria algo positivo ou negativo. A reportagem acabou suscitando uma série de tweets de diversos autores e leitores que passaram o dia de sexta comentando sobre o assunto. A conversa gerada foi bem interessante (eu aprendi tantos termos, que eu nem sabia que existiam, relacionados à sexualidade que minha cabeça quase deu nó) e eu fiquei com vontade de expor minha opinião sobre o assunto em mais de 140 caracteres.

Primeiro, eu queria deixar claro que a discussão gira em torno de uma literatura voltada para adolescentes e não para crianças, sendo assim, eu acho super importante que os livros que visam esse público toquem no assunto. Particularmente, não acho uma boa ideia cenas detalhadas de sexo porque, como disse a Thalita Rebouças na reportagem, tem adolescente de 14 anos mais maduro que gente de 30 e tem adolescente de 14 anos com mentalidade de 10, mas o assunto deve ser abordado sim.

Conversas sobre sexo deveriam começar em casa com os pais, mas, infelizmente, isso nem sempre acontece. A escola, em alguns casos, tenta suprir essa necessidade com algumas aulas de "educação sexual" inseridas na matéria de Ciências ou na de Biologia, mas essas aulas muitas vezes são mal elaboradas e insuficientes. Sem contar com o fato de que uma grande parte dos adolescentes pode acabar ignorando as recomendações sobre sexo seguro justamente por serem aulas.

E é aí que entra a importância da literatura abordar o assunto. Muitas vezes, os livros são o único meio através do qual os adolescentes podem aprender de uma maneira "segura" sobre o assunto. Sem contar que eles podem servir como porta de entrada para pais e professores  iniciarem um diálogo com os adolescentes sobre o assunto. Os livros podem retratar a importância do sexo seguro e as consequências que a falta dele podem acarretar de uma forma bem mais fácil e real de apreender do que uma aula. Eles podem mostrar porque é importante ouvir quando alguém diz não (em vez de ignorar e cometer um estupro) e a importância de não se dizer sim apenas por pressão dos amigos.

E a ideia de que só por lerem livros que falem sobre sexo ou contenham cenas de sexo eles vão começar a praticar sexo é completamente irrealista. Eu li muitos livros que falavam sobre sexo e nem por isso virei ninfomaníaca. Lembro que ainda adolescente li um paradidático cujas protagonistas eram prostitutas adolescentes; um livro que me marcou muito também foi Predadores da Inocência que aborda o tráfico sexual infantil; Coisas que toda garota deve saber também aborda o tema; As séries O Diário da Princesa e A Irmandade das Calças Viajantes também falam sobre sexo; e eu acho que quase todo chick-lit toca no assunto. Isso sem contar que quase metade dos clássicos que são lidos ou estudados no Ensino Médio abordam o tema, por exemplo: O Cortiço, O Bom Crioulo, Emma Bovary, O Crime do Padre Amaro, Luzia-Homem, A Carne, O Primo Basílio, Germinal, etc.

Quanto à linguagem usada para falar sobre o assunto também não vejo problema algum porque são termos que eles já ouvem no dia a dia. Por mais que muitos adultos queiram negar, adolescentes fazem sexo, falam sobre sexo e usam essa linguagem mais "pesada" para falar sobre o assunto.

Agora, sobre sexo na literatura YA eu não vejo porque reclamarem. Como o próprio nome já diz, o público alvo é o young-adult (jovem adulto) e é de se esperar que um jovem adulto já tenha noção suficiente do assunto para não precisar ser censurado.

Quanto à literatura infantil falando sobre sexo, também acho importante, principalmente e sobretudo com o acompanhamento dos pais. Eu estou longe de ser mãe, mas acho que crianças devem ser ensinadas sobre o que é sexo e, principalmente, sobre o que é abuso sexual e também acho que os livros podem ser excelentes parceiros nesse processo. Na verdade, se você já é mãe ou pai ou tem algum contanto com alguma criança pequena, eu super recomendo o livro Kiko e a Mão para ensinar sobre abuso sexual.

Agora eu queria levantar um outro tema...

Vamos falar (na igreja) sobre sexo?/ Vamos falar sobre sexo (na literatura cristã)?

Eu já tinha falando sobre esse assunto por aqui, mas na época eu só indiquei alguns links interessantes sobre o assunto, hoje eu quero abordá-lo de um ponto de vista mais pessoal.

Eu tive muita sorte porque, desde criança, meus pais conversaram comigo sobre sexo e nunca deixaram de responder à nenhuma das minhas perguntas por mais "embaraçosas" que elas pudessem ser e olhem que eu fiz muita pergunta embaraçosa. (A propósito, obrigada por isso, mamãe e papai). Além disso, eu pude conviver com algumas mulheres cristãs casadas que não tiveram problema algum em falar sobre o assunto comigo mesmo eu sendo solteira. Mas eu sei que essa não é a realidade de muitos jovens cristãos.

Falar sobre sexo na igreja ainda é um tabu para muitos, mas graças a Deus esse tabu tem sido quebrado por muitas pessoas. Conversar sobre isso com adolescentes é importante não só pelos mesmos motivos expostos na primeira parte desse post, mas também para que eles entendam que sexo é algo bom ou, pelo menos, é pra ser (eu não posso falar disso de um ponto de vista pessoal ainda, mas tenho fontes seguras sobre o assunto) e que só é pecado se praticado fora do casamento. É preciso quebrar com a ideia que alguns ainda tem que sexo é ruim ou que é pecado (até porque não existe pecadinho e pecadão) porque essa ideia pode acabar transformando esses adolescentes em adultos casados e sexualmente frustados e com sérios problemas dentro do casamento.

Além disso, conversar de maneira sincera e aberta sobre o assunto faz com que o adolescente entenda a importância de se guardar para o casamento e decida permanecer virgem por fé e obediência à palavra de Deus e não por medo ou por acreditar que esse seria um pecado enorme, maior do que os que ele já comete, ou por causa dos pais etc.  E é aí que entra a importância de livros cristãos abordando o assunto.

Peraí... livros cristãos contendo sexo? Você tá brincando, Vanessa? Não, não estou brincando. Falar sobre sexo não transforma, necessariamente, um livro em erótico e fazê-lo através de uma literatura de cunho cristão é importante para que o adolescente (ou quem quer que leia) entenda que 1) sexo é bom, 2) sentir atração sexual por alguém é algo natural, 3) abstinência sexual não é fácil, mas também não é um bicho de sete cabeças, 4) sexo fora do casamento é um pecado como qualquer outro e não  um maior e 5) não é porque a pessoa não é mais virgem que Deus não ama mais ou que ela vai direto pro inferno ou algo do tipo. Além disso, ler livros nos quais os personagens têm crenças iguais às suas e tomam as mesmas decisões que você ajudam o adolescente a permanecer firmes em seus propósitos ante às pressões dos "amigos" para que o/a adolescente perca a sua virgindade o quanto antes.

Enquanto eu pensava sobre esse assunto eu percebi que muitos dos livros cristãos que eu tenho ou li (alguns ainda adolescente) abordam o assunto e foram/são muito importantes na minha formação enquanto mulher e cristã. Por exemplo: A Batalha de Toda Adolescente, Cantares de Salomão (você pode até interpretar Cantares como um exemplo da relação entre Cristo e a Igreja, mas ele foi escrito primordialmente para retratar a relação conjugal entre um homem e uma mulher), A Mulher Controlada pelo Espírito (tem um capítulo falando sobre como o temperamento da pessoa influencia na vida sexual), A Série Cris e seus derivados (Você já leu, mas não percebeu o livro abordando sexo? Pera lá que eu vou te lembrar: a Alyssa engravida do Sam no primeiro livro; o Rick pré-convertido vive forçando a barra na parte física de qualquer relacionamento em que esteja; o Ted e a Cris precisam parar de se beijar várias vezes porque já estão no sinal vermelho; a história da Tia Marta e da sua filha Joana; o beijo capaz de gerar uma criança - palavras do pai do Eli - entre o Eli e a Katie; a Cris aparecendo de madrugada na universidade usando só uma camisa do Ted e sabe-se lá o quê por baixo; as cenas de sexo entre a Cris e o Ted na série em que eles estão casados e essa frase da Katie), Hadassah - Uma Noite com o Rei (uma noite com o rei, acho que esse título já diz tudo, né?), A Bandeja - Qual Pecado te Seduz? (tem cenas de sexo no livro e apesar de ainda não ter lido Entre a Mente e o Coração creio que também deve ter ou, pelo menos, deve abordar o assunto), Perdido sem Você (não é o foco do livro, mas ele aborda o sexo em alguma partes e o faz de uma maneira bem construída e realista com umas cenas e diálogos hilários) e Amor de Redenção [A protagonista é uma prostituta e rola sexo do início ao final do livro. O livro aborda pedofilia, prostituição, estupro, traição, sexo como vingança, incesto, sexo como expressão de amor, a importância do prazer sexual tanto feminino quanto masculino, sexo dentro e fora do casamento, sexo - ou atração sexual - como ferramenta de conquista, etc. Fala até sobre empoderamento feminino! (Isso não tem necessariamente a ver com sexo, mas que quis dizer porque é muito legal.)  E esse é um livro que eu recomendaria pra qualquer pessoa independente se for adolescente ou adulto]. Enfim, esses são só alguns exemplos.

Eu já estou com sono e tenho que trabalhar mais tarde, então vou parar por aqui. Espero que tenha conseguido deixar claro o porquê eu acho importante se conversar sobre sexo em casa, na igreja e na literatura. Digam nos comentários qual é a opinião de vocês sobre o assunto.



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2 comentários:

Ste Valim disse...

Acho que deve ser sim abordado o sexo em literaturas jovens. As pessoas tem que saber, e não ficar ignorantes sobre esse assunto. Acho, inclusive, que as pessoas deveriam temer menos esse tema "polêmico", deveriam torna-lo comum, para que as pessoas soubessem melhor da importância da segurança na hora do sexo.
Adorei o texto.
www.anexolivre.blogspot.com

Vanessa Carneiro disse...

Concordo com você, Ste. Livros são uma ótima forma de abordar o assunto e gerar conversas sadias. :)